Eu ouvia-a a falar comigo. Queria responder-lhe, mas os meus lábios permaneciam calados e quentes. Como todo aquele coma. Tão quente, que me queimava os sonhos e tão calado que me fazia acreditar que a minha morte chegara sem aviso prévio. Mas eu ouvia-a. E respondia-lhe. Mas ela não me ouvia a mim.
Conseguia adivinhar-lhe as lágrimas que não chegavam a cair, por detrás da máscara que lhe cobria praticamente a cara toda. Mas ela não chorava. Guardava para si todas mágoas e sentimentos derrotistas, como sempre fizera tão bem.
Sentia-lhe as mãos. Ela entrelaçava sempre as nossas mãos enquanto falava comigo. E mesmo quando não falava. Sentia-lhe o coração, a bater à velocidade da luz, quando ela se debruçava sobre o meu corpo morto para se despedir.
Quantas vezes quis abraçá-la e dizer-lhe para não ir embora e quantas foram as vezes que lhe quis dizer que eu ainda não morrera? Ela sabia. Ela sabia que eu ainda era a sua menina. Mas diferente. Num estado de morte induzida, que aos poucos ia desvanecendo a esperança e a calma.
Lembro-me de sonhar. Sonhava sempre com focos de luz com demasiadas cores, tantas que ficava tonta, prestes a cair, como quando as crianças rodopiam sobre si mesmas e acabam sempre por cair no chão. O meu chão, não existia; caía para o infinito, uma queda que nunca acabava, sufocante e desesperante, incerta e totalmente desequilibrada. Não tinha noção do dia ou da noite, porque os sonhos eram sempre iguais; havia um único momento em que paravam por completo: quando ela chegava. Ela não precisava de me tocar nem de dizer absolutamente nada. Eu sentia a presença dela.




28 remember with me:

Inês Maia disse...

Querida Filipa...
De entre todos os textos que simpática e amorosamente teimas em publicar com esse teu jeito de poesia inconfundivel, hoje apetece-me falar deste em especial... Sinto-me num coma de paixão, em que a saúde está frágil em consequência de falhas de amor, em que estou desligada de tudo, o coração fala mas eu não, pois tudo está a ser mais forte que eu, ele, aquele ser mais marcante de toda a minha vida, foi a máquina que me manteve viva,me deu forças e vontade para viver, agora está prestes a desligar-se e se deixar de me alimentar sei que me vou sentir morta, talvez não para sempre mas por muito tempo enquanto o coração não for capaz de voltar a bater sozinho e com mais força! Tu minha deusa, és mais que uma força para mim, mais que uma amiga, mais que um ser, e sabes que este é mais um dos momentos em que te procuro e agradeço por te ter conhecido e me apoiares em momentos em que ao contrário de ti sempre tive e tenho oportunidade de ver toda a vida de olhos abertos, mas nem sempre quero consigo ou quero!

beijos...

A. disse...

Por vezes basta a presença para trazer a calma
Beijinho

Carla disse...

dorido texto...ma com a esperança da eternidade presente
beijo

Por entre o luar disse...

A presença de alguém que gostamos já serve de consolo, calma e força=)

Amei o texto... lindo mesmo!

BeijinhoO Filipa:D

segredo disse...

Filipa,
Casa nova mas com textos maravilhosamente escritos como é teu costume!
Parabens!
Beijinho de lua*.*

A.S. disse...

Este texto está carregado de emoção, pow! Tu transpões em palavras aquilo que o coração sente!
Parabéns.


E parabéns por teres ultrapassado o que quer que tenhas ultrapassado... és uma lutadora

angell7911 disse...

a Presença sou eu, só pode (H)

tá bué profundo, gostei +.+

impulsos disse...

Um texto comovente e muitíssimo bem escrito.
Fez-me lembrar um poema meu que escrevi há uns meses e que falava do mesmo tema: a morte em vida num coma profundo.
Se quiseres ver, está aqui: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=73322
E já agora e porque o poema está num site em que participo regularmente e também porque gostei do que li aqui, faço-te o convite de nele participares também, caso queiras, está claro.

Beijo

gisela disse...

lindo texto. querida tas bem? beijocas

Unknown disse...

Filipa.

Entrei e gostei do que li. Vou regressar para que a minha leitura seja mais completa.

Fica bem e feliz.

Bjnhs do ZezinhoMota

Pedro disse...

Gosto sempre do que escreves, ainda que escrevas sobre um tema tão difícil... a morte.
Mas é impressionante... gosto sempre.

Beijo Filipinha

- disse...

que descoberta boa!

Ricardo disse...

Muitas são as vezes em que nos revoltamos contra o mundo à nossa volta, contra o que nos acontece de mal, ou com a vida.
Muitas são as vezes em que as pessoas "comuns" se esquecem dos que sofrem; daqueles que não se revoltam, aconteça o que acontecer... daqueles que aguentam as dificuldades da vida, e as aceitam, como uma sina, da qual não há maneira de escapar.
Muitas são as vezes em que te admiro. Pela forma como ultrapassaste a tua "sina". Pela força que demonstras quando algo corre mal; por tudo.
Continua sempre assim.

Heduardo Kiesse disse...

ainda que o trabalho... me esteja a roubar as palavras vim buscar uns minutinhos pra te deixar um abraço fraterno amiga Filipa!

Heduardo



bjs

adenilson disse...

achei sensaiconal o nome do seu blog e vim aki fuçar.
mto legal.
ótimas palavras.
textos.

tu é uma portuguesa muito da inteligente num sabes..

grande abraço.
ótima kuarta
fds tá batendo na porta jah xD^
eu demoro, mas apareço
xD^

Ahab disse...

Coisa forte. Fico na incerteza se estamos a falar sobre o amor de uma pessoa morta e uma viva.

De ambas as formas aqui houve um amor entre duas mulheres.

"Ela sabia. Ela sabia que eu ainda era a sua menina"

Um tabu na sociedade é verdade... Mais o amor não escolhe as regras, ela as dita. E como tal deve ser exposto.

Direto do Brasil.
Beijos.

Anónimo disse...

A presença e mais que tudo, por vezes :)

MoonLight disse...

ola querida, novamente os teus textos me deixam boquiaberta. fazes-me lembrar uma certa menina que existiu ha uns anos atras.

se quiseres conversar adiciona me:


safeside@live.com.pt

Maguetta disse...

o Texto está pura e simplesmente Wóuw *.*,

Luis Ferreira disse...

Querida amiga Filipa, um texto divinal, cheio de sentimento.

Os meus parabéns

Adorei ler e sentir

Com amizade
Luis

A Magia da Noite disse...

nem todas as dimensões são perceptíveis ao olhar humano, apenas os sentidos as detectam e as escutam.

Menina Marota disse...

Impressionantemente lindo e carregado de sensibilidade.
Grata pela partilha num dia em que estou especialmente triste pelo desaparecimento de uma Amiga que deixou na maior dor Família e Amigos.

Beijinho e tudo de BOM

Ana Filipa disse...

Ola Filipa (:

Também sou Filipa , e tenho fibrose quistica tambem . Sou amiga da Ana Sofia que foi á uns dias pra Madrid pra ser transplantada . Eu tambem já o fui , á 5 meses atrás .

Entrei neste teu cantinho , porque chamou-me atenção como escreves :O
Tens um dom mesmo , para além da simpatia é o dom da escrita .

Espero que estejas bem , podes entrar em contacto comigo por mail ou entao pelo meu blog :
ana.ferreira_39@hotmail.com
www.filipatransplante.blogspot.com

Muitos Beijinhos e muita força :D

Onyx disse...

Hello linda... Também sinto falta da Xanoca... De certeza que faltam anjos no céu, senão eu não conhecia a realidade que conheço, tal como tu, ou ela, ou muitos outros... Nunca perdeu a força, assim como tu, uma lutadora cheia de esperança no dia seguinte... São as vencedoras, sempre, nunca penses o contrário. Acredita sempre, sempre, sempre. Abraço apertado. Fica bem. Jto gde*

vanessa moreira disse...

Tens uns excelentes textos, mas este está .. wow =X

Unknown disse...

Bom trabalho :-)
Aproveita para ver como foi o dia da FQ em http://transplantes-pulmonares.blogspot.com/2009/11/dia-europeu-da-fibrose-quistica.html

Um abraço,
Sandra Campos

Unknown disse...

Querida amiga,
Como sempre, quando leio as "tuas coisas"fico sem palavras.
Guardo religiosamente os teus textos que revelaram uma menina de 16 anos com uma profundidade de pensamento e de emoções muito excepcionais! Estes confirmam essas qualidades, com uma maior maturidade e reflexão sobre a vida e as suas vivências.
Bjos teresa

A Coração disse...

Ha presenças que são eternas... aconteça o que acontecer.